Eu não tenho ídolos. Na verdade, é o Michel Melamed que quer ser igual a mim. Barba, cabelo revoltado, teatro, jornalismo, poesia, música, tudo ele que copiou. Só o que é dele mesmo e eu ainda sonho imitar é a técnica genial para entrevistar artistas.
Pra mim, médicos e empresários são difíceis de se entrevistar. Mas, no exercício da profissão, a maioria dos jornalistas entra tanto em contato com essa gente, que acaba pegando o jeito. Se informar bem primeiro, fazer perguntas claras e objetivas, enfim, tudo para que o entrevistado não pense que se está tomando o tempo dele com conversa fiada.
O problema é quando chega um cara pra entrevistar o Pink Floyd e comete este desrespeito com o momento “bolinhas de fumaça” do Roger Waters.
O repórter, engessado, pergunta:
– Você é feliz?
– O que significa “ser feliz”? – o artista rebate.
– Você sente que está fazendo algo num caminho interessante ou não?
(Bolinhas. Muitas)
– O que significa “interessante”?
Pau no repórter, com muito merecimento! Pela cartilha do Melamed, escrita por trás das entrevistas dele pro Recorte Cultural, da TVE Brasil, não só é proibido ignorar as viagens de um artista com a fumaça de um cigarro, como é recomendável que dela se tire o motivo para a melhor conversa de todos os tempos com o artista.
A fórmula torna Melamed “the face” ( “o cara”, numa tosca tradução), por entender que o artista é dotado de maior criatividade que os demais mortais, e vive de exercitá-la e aprimorá-la. Por conseqüência, pra se dar bem com um deles, é preciso criatividade e improviso.
Melamed em cena
Essa se tornou a fórmula do Recorte, que deixa saudades aqui em Blumenau depois que a Furb TV cancelou o contrato com a TVE e passou a transmitir o Futura, este mês.
Ainda assim, Melamed vai me inspirar por muito tempo, e me fazer acreditar num jornalismo artístico muito mais competente que o praticado pela maioria dos jornais.
Dos programas no You Tube , recomendo este bloco do Recorte, com o ator Rodrigo Penna e o músico Tom Zé.
Na memória, ainda trago um final espetacular, quando, ao lado do artista plástico Zemog, Melamed pede:
– Vamos a um final diferente. Você vai falar pro telespectador desligar a TV. Nós não vamos acabar o programa. Quem vai acabá-lo é quem tá em casa.
– Desligue a TV. Vá ler um livro!
– É, a gente não vai mais conversar. Não tem mais programa. Desligue a TV!
Ficaram os dois ali, na enrolação. Eu, boquiaberto, sem noção de como levantar o controle remoto pra obedecê-los.
dezembro 10, 2007 às 1:50 am
Meus Deus… isso daqui tá cada vez mais bizarro… rssss… Adorei a do telefone, vou começar a usar…
abração
dezembro 10, 2007 às 12:36 pm
Bah, jornalismo cultural também têm que ser cultura. Aí é que fica difícil o nosso trabalho.
dezembro 10, 2007 às 2:06 pm
Cara, esse papo da Furb trocar a TVE pela Futura até agora eu não engolí direito…lá se foi o Recorte Cultural, Espaço Público, Sem Censura, e o melhor programa de entrevistas da tv nacional: Roda Viva.
Mandei e-mail pra eles e não me respondem. Falei com a Ana, que trabalha na Rádio e ela me disse que no final das contas vale mais a pena institucionalmente…em outras palavras, mais verbas. Assim, espero ver um programa de jornalismo cultural feito por tí e/ou pelo Fábio Ricardo o mais rápido possível, valeu?! Hehehe…
Abraço.
dezembro 10, 2007 às 3:31 pm
Tirou a TVE e colocou a Globo Educa, ops, Futura?
Acho que vocês vão perder muito com isso…
dezembro 11, 2007 às 1:29 am
Gostei do texto… O comentário é este.
dezembro 11, 2007 às 2:22 am
O cara é bom…Gosto da originalidade dele e do formato do programa…A foto que vc fez tá legal…Sim, porque o desenho tá tão bom que ´e quase uma foto…rs…Falei alguma heresia ? rs