Paredes brancas são meu tormento e não haveria sensação pior pra me acompanhar durante a espera no hospital. Os minutos rastejavam cada vez mais longos quando pude finalmente ver meu filho e minha esposa.
O Leonardo chegou pra mudar nossas vidas. Pelo menos a minha, eu decidi, tinha que ser preenchida com momentos de alegria intensa, pra compensar tanta agonia da passagem até agora discreta que tive por este mundo. Que hora estranha pra nascer o meu primeiro filho! A coincidência só podia ser o aviso que eu precisava, e eu atendi.
Passamos dias vendo as ondas na praia, conhecendo o vai-e-vem da água. Barulho de mudança, pra mim uma terapia. Em casa, era o Leonardo de dia e uma nova esposa à noite. Eu a amava mais do que nunca, ela procurava entender minha nova fase e dávamos gargalhadas com o Léo. Uma linda mãe, um lindo filho.
Esta semana o Léo fez seu primeiro aniversário e tive uma surpresa: sobrevivi. Contrariei as expectativas do médico, que disse que eu teria apenas um ano de vida depois de descoberto o câncer.
O Léo já está mexendo com a areia na praia. A Mara chora e não sabe explicar por quê. O médico ainda diz que posso morrer a qualquer momento, mas meu filho me trouxe hoje uma palavra mais animadora que a do pós-graduado: “papai”.
novembro 8, 2008 às 1:25 am
Belo e triste conto. Parabéns