A ilha e o frio na barriga seguiam pela minha cabeça viagem adentro quando ela se deitou no meu peito. Protegida de mim pelo banco do ônibus. A noite avisava que ia ficar mais complicado chegar sozinho à cidade desconhecida. Pior: seria mais difícil ver o rosto dela. Melhor esticar o pescoço agora.
Ela dorme.
A ilha e o medo, o segredo nos bicos dos seios, a aventura de olhar a musa enquanto as amigas dela seguiam acordadas. Miro a lanterninha do teto do meu banco em direção aos olhos dela.
Ainda dorme, e eu mais vejo. Volto. Torno a subir e nem sei mais qual Floripa passa agora. Só sei o seio o seio o seio.
Acordam-se. Garopaba já e eu sentado de volta. Levantam-se mais peitos e fios loiros pra se mostrarem tão perdidos quanto eu.
Uma delas fala com o motorista baixinho. Só ouço:
– Ah, mas qualquer coisa vocês não vão ter problema pra arranjar carona!
O carnaval estava só começando, e o dinheiro pro carro nunca mais fará falta.

maio 18, 2008 às 1:25 pm
texto bem escrito… com olhar de observador… vc que fez o desenho? achei lindo…
bjooo
maio 19, 2008 às 4:04 pm
Uma curiosidade…
Você primeiro escreve o texto, a enredo no caso e depois faz o desenho… ou você primeiro faz o desenho e depois se inspira nele para escrever a história ou a crônica?
=P
Beijos!
maio 19, 2008 às 4:28 pm
Já retribuindo a visita e lendo o Blog.
Adicionei no feed.
Belo artigo, Daniel.
Abraço.
maio 19, 2008 às 4:47 pm
Muito bom! Por essas e outras socializações, o ônibus é sempre uma boa pedida.
maio 19, 2008 às 8:21 pm
Se vc fosse pra Lages no ônibus q
maio 19, 2008 às 8:24 pm
Ai apertei errado aqui
jhahaha
Se vc fosse pra lages naquela coisa bonita de ônibus que eu vou, JAMAIS teria histórias assim pra contar.
=D
maio 22, 2008 às 2:25 pm
Haha Tá bom, Larissa, Lages não está mesmo nos meus planos.
Ana, depende do post. Neste, o desenho veio primeiro. Por um lado, a imagem é muito mais sugestiva que qualquer texto, e a partir dela é mais gostoso mergulhar e chegar em algo mais específico , mais limitado, como as palavras.
Por outro, o espe´cifcio e limitado é mais difícil de memorizar. Por isso, às vezes escrevo antes pra não esquecer. O desenho, como vês aqui, é bem difícil de ser esquecido. Esta imagem eu vi em fevereiro. O texto em formato de crônica, com menos sentimento, foi mais fácil de ser escrito meses depois do episódio. Poema complica.
abraços