Costa de Souza

Caricatura | Ilustração

Adormecida

7 Comentários

 

A ilha e o frio na barriga seguiam pela minha cabeça viagem adentro quando ela se deitou no meu peito. Protegida de mim pelo banco do ônibus. A noite avisava que ia ficar mais complicado chegar sozinho à cidade desconhecida. Pior: seria mais difícil ver o rosto dela. Melhor esticar o pescoço agora.

Ela dorme.

A ilha e o medo, o segredo nos bicos dos seios, a aventura de olhar a musa enquanto as amigas dela seguiam acordadas. Miro a lanterninha do teto do meu banco em direção aos olhos dela.

Ainda dorme, e eu mais vejo. Volto. Torno a subir e nem sei mais qual Floripa passa agora. Só sei o seio o seio o seio.

Acordam-se. Garopaba já e eu sentado de volta. Levantam-se mais peitos e fios loiros pra se mostrarem tão perdidos quanto eu.

Uma delas fala com o motorista baixinho. Só ouço:

– Ah, mas qualquer coisa vocês não vão ter problema pra arranjar carona!

O carnaval estava só começando, e o dinheiro pro carro nunca mais fará falta.

Autor: Costa de Souza

Artista gráfico. Caricaturas e ilustrações.

7 pensamentos sobre “Adormecida

  1. texto bem escrito… com olhar de observador… vc que fez o desenho? achei lindo…
    bjooo

  2. Uma curiosidade…
    Você primeiro escreve o texto, a enredo no caso e depois faz o desenho… ou você primeiro faz o desenho e depois se inspira nele para escrever a história ou a crônica?

    =P

    Beijos!

  3. Já retribuindo a visita e lendo o Blog.
    Adicionei no feed.

    Belo artigo, Daniel.

    Abraço.

  4. Muito bom! Por essas e outras socializações, o ônibus é sempre uma boa pedida.

  5. Se vc fosse pra Lages no ônibus q

  6. Ai apertei errado aqui
    jhahaha

    Se vc fosse pra lages naquela coisa bonita de ônibus que eu vou, JAMAIS teria histórias assim pra contar.

    =D

  7. Haha Tá bom, Larissa, Lages não está mesmo nos meus planos.

    Ana, depende do post. Neste, o desenho veio primeiro. Por um lado, a imagem é muito mais sugestiva que qualquer texto, e a partir dela é mais gostoso mergulhar e chegar em algo mais específico , mais limitado, como as palavras.
    Por outro, o espe´cifcio e limitado é mais difícil de memorizar. Por isso, às vezes escrevo antes pra não esquecer. O desenho, como vês aqui, é bem difícil de ser esquecido. Esta imagem eu vi em fevereiro. O texto em formato de crônica, com menos sentimento, foi mais fácil de ser escrito meses depois do episódio. Poema complica.

    abraços

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